A Boitempo lança o livro A luta de classes: uma história política e filosófica, do marxista italiano Domenico Losurdo. Depois
de seu aclamado A linguagem do império: léxico da ideologia estadunidense, Losurdo se volta para o conceito e a prática da
luta de classes e sua atualidade diante da atual crise econômica que se
alastra, e provoca: “é certo que a luta de classe tenha de fato desaparecido?”
A
LUTA DE CLASSES: Domenico
Losurdo
UMA HISTÓRIA POLÍTICA E FILOSÓFICA
Domenico Losurdo,
Boitempo Editorial
A
luta de classes acabou? É ela somente o conflito que se verifica na fábrica
entre operário e capitalista? Eis algumas reflexões a que nos convida a obra do
filósofo italiano Domenico Losurdo.
Munido
de um materialismo histórico que reconhece suas raízes em Hegel e sem abdicar da
herança deixada não só por Marx e Engels, mas também aquela de grandes teóricos
e revolucionários marxistas, a obra de Losurdo, em doze capítulos de apurado
senso crítico, abre-se a um rigoroso debate com importantes expoentes do
pensamento filosófico de ontem e de hoje. Percurso, aliás, no qual o leitor é
levado a encontrar curiosas afinidades. Jürgen Habermas e Hannah Arendt
esposaram o ocaso da luta de classes já sob o capitalismo, o primeiro fazendo ver
as conquistas do Welfare State, a segunda sustentando de modo miraculoso e
unilateral a função redentora da tecnologia. Mas não teriam sido os liberais
Alexis de Tocqueville e J. S. Mill, ainda no século XIX, a lançar a ideia da
dissipação das classes por obra do progresso europeu? Para o autor, mais
sólidas são as conclusões do Manifesto
comunista: a sociedade burguesa não aboliu
as classes, apenas “estabeleceu novas condições de opressão” (p.73).
E
é a Marx que a obra nos faz voltar para demonstrar que a luta de classes, mais
que esvaecida, deve ser declinada no plural. Assim, não faria sentido a oposição
entre emancipação e reconhecimento, cara à tese da primazia hodierna da luta
feminista, dos afrodescendentes. E nesse quadro plural emerge também a luta
nacional, até mesmo em sua dimensão diplomática ou geopolítica. Parte-se das referências
de Marx às lutas de independência da Irlanda, do Lenin que se debruça sobre o
problema do imperialismo, da Argélia que interessou a Fanon, da China de Mao e
Deng. Uma discussão, de fato, essencial ao Brasil de hoje, envolto em acerbadas
lutas de rua, mas também em um ciclo de reconhecimento de direitos e ainda em
uma nova configuração geopolítica mundial.
Texto
de Marcos Aurélio da Silva] Professor da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC).
Fonte: SILVA, Marcos Aurélio da, Le Monde Diplomatique
Brasil, julho 2015, pg. 39.
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