Tirado do DVD - Direito à Memória Verdade e Justiça – do
Ministério da Justiça, relativos aos Estudos e Implantação da Comissão da
Verdade no Brasil, sob o Título – Ligas
Camponesas
No
Brasil, a primeira experiência de organização dos camponeses em um tipo de
associação civil – as Ligas Camponesas – foi realizada pelo Partido Comunista do
Brasil (na época PCB), entre 1945 e 1947, com o objetivo de mobilizar os
trabalhadores do campo, levantar suas reivindicações específicas e congregá-los
politicamente em uma aliança com os setores operários nas cidades. Essa
experiência foi interrompida a partir de 1947, em consequência da proscrição da
vida legal do PCB, da cassação de seus parlamentares e da repressão crescente
durante o governo Dutra.
Em
1955, a criação da Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de
Pernambuco (SAPPP), possibilitou um novo começo na trajetória das Ligas
Camponesas. Fundada no engenho Galiléia e formada por camponeses e militantes
comunistas, a SAPPP tinha como objetivo inicial impedir a expulsão dos foreiros
e arrendatários das terras do engenho. Registrada como associação civil e
amparada por um comitê político interpartidário, a SAPPP rapidamente ampliou
seu raio de ação e seu escopo político e ideológico para transformar-se nas
Ligas Camponesas – agora convertidas em um amplo movimento social que introduziu
a questão agrária no centro da agenda política nacional nos anos de 1950 e
1960, e atuou de forma independente tanto do Estado nacional-desenvolvimentista,
quanto das forças políticas da época, como por exemplo, a Igreja Católica, o
próprio PCB ou o movimento sindical.
Até
o início da década de 1960, as Ligas Camponesas orientaram sua ação na luta
pela expansão dos direitos civis e sociais. O centro estratégico era formado
pela luta jurídica: ao representarem o camponês no tribunal os advogados das
Ligas transformavam conflitos sociais – por exemplo, a expropriação de terras –
em conflitos jurídicos e o camponês, seu autor, em um sujeito portador de direitos.
Com a desapropriação do Engenho Galiléia, em 1959, as Ligas se expandiram vigorosamente
pelos principais estados do Nordeste e para outras regiões do país. Nesse
processo de expansão, sua direção disputou a liderança do movimento social
rural tanto com os comunistas do PCB, quanto com a Igreja Católica que atuava
no campo, sobretudo através da Ação Popular (AP).
A
partir de 1962, as Ligas assumiram um projeto radical de reforma agrária – “na
lei ou na marra” –, promoveram invasões e ocupações de terra e buscaram um novo
formato político e organizacional cada vez mais próximo do modelo
revolucionário cubano. O advogado Francisco Julião tornou-se a liderança mais
conhecida das Ligas, tendo sido preso nos primeiros dias do novo regime.
Para
saber mais:
AZEVEDO,
Fernando Antônio. As ligas camponesas. Rio de Janeiro: Paz
e
Terra, 1982.
PAGE,
Joseph. A revolução que nunca houve: o nordeste do Brasil (1955-1964). Rio de
Janeiro: Record, 1972.
Referências
bibliográficas:
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Fernando Antônio. As ligas camponesas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
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Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo (Org.) O golpe e a ditadura
militar 40 anos depois (1964-2004). Bauru: EDUSC, 2004.
HOUTZAGER,
Peter P. Os últimos cidadãos: conflito e modernização no Brasil rural
(1964-1965). São Paulo: Globo, 2004.
MARTINS,
José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1983.
MEDEIROS,
Leonildes. História dos movimentos sociais no campo. Rio de Janeiro: Fase,
1989.
MORAES,
Dênis. A esquerda e o golpe de 64. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989.
MORAIS,
Clodomir Santos de. História das Ligas Camponesas no Brasil.
Brasília:
Iattermund, 1997.
PAGE,
Joseph. A revolução que nunca houve: o nordeste do Brasil (1955-1964). Rio de
Janeiro: Record, 1972.
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Angelo. O PCB e a questão agrária: os manifestos e o debate político acerca de
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vermelhos: os comunistas brasileiros no século XX. São Paulo: Cortez, 2003.
ROLLEMBERG,
Denise. O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro.
Rio de Janeiro: Mauad, 2001.
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Jean Rodrigues. A luta armada contra a ditadura militar: a esquerda brasileira
e a influência da revolução cubana. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,
2007.
SANTOS,
José Vicente (Org.). Revoluções camponesas na América Latina. Campinas: Ícone,
1985.
SILVA,
Maria Aparecida de Morais. Errantes do fim do século. São Paulo:
Editora
UNESP, 1998.
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