terça-feira, 14 de maio de 2013

As Ligas Camponesas


 Tirado do DVD - Direito à Memória Verdade e Justiça – do Ministério da Justiça, relativos aos Estudos e Implantação da Comissão da Verdade no Brasil, sob o Título –  Ligas Camponesas


No Brasil, a primeira experiência de organização dos camponeses em um tipo de associação civil – as Ligas Camponesas – foi realizada pelo Partido Comunista do Brasil (na época PCB), entre 1945 e 1947, com o objetivo de mobilizar os trabalhadores do campo, levantar suas reivindicações específicas e congregá-los politicamente em uma aliança com os setores operários nas cidades. Essa experiência foi interrompida a partir de 1947, em consequência da proscrição da vida legal do PCB, da cassação de seus parlamentares e da repressão crescente durante o governo Dutra.

Em 1955, a criação da Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco (SAPPP), possibilitou um novo começo na trajetória das Ligas Camponesas. Fundada no engenho Galiléia e formada por camponeses e militantes comunistas, a SAPPP tinha como objetivo inicial impedir a expulsão dos foreiros e arrendatários das terras do engenho. Registrada como associação civil e amparada por um comitê político interpartidário, a SAPPP rapidamente ampliou seu raio de ação e seu escopo político e ideológico para transformar-se nas Ligas Camponesas – agora convertidas em um amplo movimento social que introduziu a questão agrária no centro da agenda política nacional nos anos de 1950 e 1960, e atuou de forma independente tanto do Estado nacional-desenvolvimentista, quanto das forças políticas da época, como por exemplo, a Igreja Católica, o próprio PCB ou o movimento sindical.

Até o início da década de 1960, as Ligas Camponesas orientaram sua ação na luta pela expansão dos direitos civis e sociais. O centro estratégico era formado pela luta jurídica: ao representarem o camponês no tribunal os advogados das Ligas transformavam conflitos sociais – por exemplo, a expropriação de terras – em conflitos jurídicos e o camponês, seu autor, em um sujeito portador de direitos. Com a desapropriação do Engenho Galiléia, em 1959, as Ligas se expandiram vigorosamente pelos principais estados do Nordeste e para outras regiões do país. Nesse processo de expansão, sua direção disputou a liderança do movimento social rural tanto com os comunistas do PCB, quanto com a Igreja Católica que atuava no campo, sobretudo através da Ação Popular (AP).

A partir de 1962, as Ligas assumiram um projeto radical de reforma agrária – “na lei ou na marra” –, promoveram invasões e ocupações de terra e buscaram um novo formato político e organizacional cada vez mais próximo do modelo revolucionário cubano. O advogado Francisco Julião tornou-se a liderança mais conhecida das Ligas, tendo sido preso nos primeiros dias do novo regime.

Para saber mais:

AZEVEDO, Fernando Antônio. As ligas camponesas. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1982.
PAGE, Joseph. A revolução que nunca houve: o nordeste do Brasil (1955-1964). Rio de Janeiro: Record, 1972.

Referências bibliográficas:

AZEVEDO, Fernando Antônio. As ligas camponesas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

BORGES, Maria Eliza Linhares. Reforma agrária e identidade camponesa. In: REIS FILHO, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo (Org.) O golpe e a ditadura militar 40 anos depois (1964-2004). Bauru: EDUSC, 2004.

HOUTZAGER, Peter P. Os últimos cidadãos: conflito e modernização no Brasil rural (1964-1965). São Paulo: Globo, 2004.

MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1983.

MEDEIROS, Leonildes. História dos movimentos sociais no campo. Rio de Janeiro: Fase, 1989.

MORAES, Dênis. A esquerda e o golpe de 64. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989.

MORAIS, Clodomir Santos de. História das Ligas Camponesas no Brasil.
Brasília: Iattermund, 1997.

PAGE, Joseph. A revolução que nunca houve: o nordeste do Brasil (1955-1964). Rio de Janeiro: Record, 1972.

PRIORI, Angelo. O PCB e a questão agrária: os manifestos e o debate político acerca de seus temas. In: MAZZEO, Antonio Carlos; LAGOA, Maria Izabel (Org.). Corações vermelhos: os comunistas brasileiros no século XX. São Paulo: Cortez, 2003.

ROLLEMBERG, Denise. O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.

SALES, Jean Rodrigues. A luta armada contra a ditadura militar: a esquerda brasileira e a influência da revolução cubana. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.

SANTOS, José Vicente (Org.). Revoluções camponesas na América Latina. Campinas: Ícone, 1985.

SILVA, Maria Aparecida de Morais. Errantes do fim do século. São Paulo:
Editora UNESP, 1998.


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