Tirado
do DVD Direito a Memória à Verdade e a Justiça – Comissão da Verdade –
Secretaria do Ministério dos Direitos Humanos.
Guerrilha do Araguaia – Direito à Memória à Verdade e a
Justiça
A
maioria das organizações de esquerda armada planejou a revolução brasileira a
partir do campo. Foram dizimadas antes de iniciá-la. Restou ao Partido
Comunista do Brasil (PCdoB) levar à frente o empreendimento. A preparação para
a guerrilha começou em 1966, quando um grupo de militantes se instalou em uma
região conhecida como Bico do Papagaio, entre os Estados do Pará, Maranhão e
Tocantins. A área era habitada principalmente por migrantes, estabelecidos em
pequenos povoados marcados pela pobreza, condição que, para o PCdoB,
favoreceria a eclosão da revolução. Além disso, acreditavam que o abuso das
autoridades locais facilitaria a adesão das massas à luta revolucionária. Por
motivos semelhantes, outras organizações de esquerda já haviam cogitado essa
área como ideal para deflagrar o movimento. Tal interesse, entretanto, não
passou desapercebido às Forças Armadas, pois, muito antes da descoberta das
bases implantadas pelo PCdoB, o Exército já percorria a área à caça de
militantes ligados a outras organizações armadas.
Para
o PCdoB, tratava-se de promover o levante dos camponeses, o cerco da cidade
pelo campo, uma força armada autônoma e a adoção da guerra de guerrilhas. A
distribuição da terra viria como resultado do processo de construção do
socialismo. Mas, antes disso, o trabalhador deveria tomar o seu lugar na
estratégia de tomada do poder político, para a efetivação da revolução. O PCdoB
considerava a autonomia do movimento social camponês e a sua capacidade de
tomar a frente no processo de transformação das sociedades, por acreditar ser
possível reproduzir no Brasil o modelo revolucionário chinês. A luta deveria
ser longa, constante, contar com a adesão do povo e estar amparada por uma
organização política com presença nas cidades. Além da formação de
destacamentos, do treinamento militar e do reconhecimento da região, os
primeiros movimentos dos guerrilheiros no Araguaia basearam-se na aproximação e
no auxílio à população local.
Contudo,
foram descobertos no início de 1972, antes de sua completa preparação. Ao invés
de surpreender, acabaram surpreendidos. A presença das tropas indicava, para os
guerrilheiros, que havia chegado a hora do confronto. Os militares voltaram ao
Bico do Papagaio em outubro de 1973. Soldados treinados na luta antiguerrilha e
oficiais disfarçados colhiam informações sobre militantes e colaboradores sob o
comando do Centro de Informação do Exército (CIE). Tratava-se das operações
“Sucuri” e “Marajoara”. A ordem era: não manter prisioneiros. Muito bem armados
e contando com um trabalho de persuasão e de repressão da população local, em
pouco mais de quatro meses desarticularam completamente a Guerrilha, mataram
seus principais líderes e dispersaram os poucos sobreviventes. Os corpos foram enterrados
na selva ou jogados nos rios próximos. Alguns nem chegaram a ser sepultados. A
grande maioria permanece desaparecida.
Para saber mais:
DÓRIA, Palmério et al. A Guerrilha do
Araguaia. São Paulo: Alfa-Omega,
[1978]. (História Imediata, 1).
GASPARI, Elio. A floresta dos homens
sem alma. In: ______. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras,
2002. p. 399-464.
Referências bibliográficas:
BRHISTÓRIA: para entender o Brasil
hoje. São Paulo: Duetto, ano 1, n.
1, 2006.
CARVALHO, Luiz Maklouf. O coronel
rompe o silencio. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2004.
DÓRIA, Palmério et al. A Guerrilha do
Araguaia. São Paulo: Alfa-Omega,
[1978]. (História Imediata, 1).
GASPARI, Elio. A floresta dos homens
sem alma. In: ______. A ditadura
escancarada. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002. p. 399-464.
GORENDER, Jacob. A Guerrilha abafada.
In: _____. Combate nas
trevas. A esquerda brasileira: das
ilusões perdidas à luta armada. São
Paulo: Ática, 1987. Cap. 29, p.
207-214.
MORAIS, Taís; SILVA, Eumano. Operação
Araguaia: os arquivos secretos
da Guerrilha. São Paulo: Geração
Editorial, 2005.
MOURA, Clovis. Diário da guerrilha do
Araguaia. 2.ed. São Paulo:
Editora Alfa-Omega,1979.
POMAR, Wladimir. Araguaia: o partido e
a guerrilha. São Paulo: Brasil
Debates, 1980.
Araguaia A Guerrilha Vista por
Dentro.
Camponeses do Araguaia A Guerrilha vista por dentro, documentário completo, baixado em 10/07 e postado em 11/07/2011.
Da série Caminhos da Reportagem, Guerrilha do Araguaia, reportagem: Emerson Pena e Paula Simas, edição:
Floriano Filho.
Tirado de grabois.org.br: Transcorridos quase 40 anos, a Guerrilha do Araguaia permanece um episódio inconcluso. Os documentos oficiais referentes a esse destacado movimento de resistência armada à ditadura militar e de luta pela conquista da democracia permanecem sob sigilo. Os restos mortais de guerrilheiros continuam desaparecidos, pois a repressão cometeu o crime de ocultá-los.
Por outro lado, os camponeses da região que foram vítimas de torturas e violências não usufruem da lei que criou o Regime do Anistiado Político. Mesmo alguns já reconhecidos como tal pela Comissão de Anistia tiveram essa conquista suspensa por decisão de um juiz federal do Rio de Janeiro.
O povo brasileiro tem o direito de saber sobre a sua própria história. A quebra do sigilo dos documentos contribui para o resgate da verdade e da memória. Aos familiares dos desaparecidos do Araguaia, deve ser assegurado o direito humanitário de um funeral honroso aos seus mortos.
É inadmissível que os camponeses que foram torturados não sejam beneficiados pela Lei da Anistia. O fato de o Estado brasileiro reconhecer as atrocidades contra eles e lhes conceder a merecida indenização contribuirá para que no futuro não se repitam esses crimes hediondos. (fonte: FUNDAÇÃO MAURÍCIO GRABOIS).
Eu militei no PC do B de 69 a 83. Em seus documentos oficiais, até hoje, o partido nega de pés juntos a extensão da influência maoista. Nega particularmente que tenha adotado a tese maoista de cerco das cidades pelo campo.
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